O conhecimento do clima passado para quantificar a natureza das mudanças que estamos observando nos dias atuais tem crescido bastante ao longo das ultimas décadas conforme apresentado nos vários relatórios do IPCC (IPCC 2001, 2007). Embora os termos detecção e atribuição estejam ligados tecnicamente, eles possuem objetivos bem distintos. A detecção da mudança climática é um processo que demonstra que o clima tem mudado baseado em algum método estatístico sem, entretanto, discutir as causas desta mudança. Atribuição de justificativas da mudança climática é o processo que estabelece a mais provável causa da mudança detectada com um determinado nível de confiança. Sendo assim, para que consigamos avaliar se as mudanças climáticas são de origem antrópica, três ações devem ser seguidas: (a) mostrar que o clima tem sido alterado; (b) demonstrar que a mudança detectada é consistente com as simulações numéricas que mostram que o sinal das mudanças no clima é uma resposta a forçante antropogênica; e (c) verificar que a mudança detectável não está associada à variabilidade natural do sistema climático terrestre. Tanto a atribuição quanto a detecção dependem diretamente de dados observacionais e modelagem numérica.
Através das medidas de concentração de CO2 a contribuição humana para o aquecimento global ficou mais evidente. Durante a era industrial, as concentrações do gás carbônico cresceram exponencialmente atingindo o valor médio de 385 ppm em 2010. Provavelmente em associação com este aumento de gás carbônico, estudos recentes mostram que a temperatura média global em superfície aumentou em torno de 0.74°C±0.18°C considerando uma tendência linear para os últimos 100 anos (1906-2005). Desta forma, o Quarto Relatório de Avaliação do Grupo 1 do IPCC (IPCC, 2007) indica a ocorrência inequívoca do aquecimento global e apresenta novas evidências sobre a real contribuição humana para o agravamento do efeito estufa. De forma geral, é consenso atualmente que mudanças climáticas na temperatura e na chuva têm um impacto direto e significativo na humanidade, cujas variações frequentemente resultam em repercussões econômicas, no meio ambiente, sociais e políticas.
Este Projeto trabalha com as seguintes Questões Científicas:
- Quais são as tendências observadas da variabilidade da dinâmica da temperatura e precipitação durante os últimos 50 anos sobre o Brasil, tanto a nível sazonal e médio, como de eventos extremos? Quais seriam as causas desta variabilidade e possíveis tendências a nível interdecadal e de longo prazo?
- Como a variabilidade local ou global da circulação atmosférica poderia afetar a variabilidade interdecadal de clima no Brasil? Será que as anomalias de temperatura e precipitação entre as diversas regiões do Brasil, que define as tendências como àquelas discutidas no IPCC (2007) poderia mudar se usamos outro “baseline” para definir clima do presente, que não seja 1961-1990.
- Como seria no futuro a associação entre mudanças nos índices de extremos de chuva e a variabilidade de padrões de circulação como o jato de baixos níveis da América do Sul e a Zona de Convergência do Atlântico (ZCAS)? Como será sua configuração em cenários futuros do clima?
- Sabemos que a variabilidade da Temperatura da Superfície do Mar (TSM) no Atlântico Sul pode influenciar o tempo e o clima da América do Sul. Qual a relação entre estas anomalias e o regime de chuvas sobre sudeste e sul do Brasil no clima presente e cenários futuros?
Espera-se que este projeto possa contribuir para uma melhor compreensão do clima e tempo no Brasil, e sua variabilidade em varias escalas de tempo, e servirá de suporte para os meteorologistas operacionais. Tendo em vista o amplo espectro de questões cientificas a serem abordados, o auxilio de estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado é fundamental para alcançar o sucesso desejado. Desta forma, espera-se que num curto e médio prazo, estudos desenvolvidos por estes estudantes contribuam para aprimorar nossos conhecimentos das mudanças do clima que vem ocorrendo e em longo prazo, os resultados obtidos sirvam para mitigação e adaptação as mudanças do clima, auxiliando os tomadores de decisão.